CHELSEA B304 - a música que as paredes escutaram
O CD que a aparelhagem da Galeria de Arte passou durante a apresentação de CHELSEA B304 by Caiado, é um trabalho de autoria inédito.
Cantado por Alda, melhor DJ Alda, que também assina as misturas e samplagens, este som recorre a clássicos – lembremo-nos que Caiado é filho de uma burguesia colonialista e cuja mãe, conta-se, chegou a dar aulas de piano.
Alda tem a voz que se adapta como látex (para não dizer vinyl) à performance fotográfica do autor. Ora mulher ora criança, também adolescente e imatura, Alda vocaliza como se estivesse longe de tudo e alheia ao seu mais próximo significante. Diz-se que este álbum foi composto com base em fotografias de Caiado publicadas dispersamente por vários órgãos da Imprensa espanhola (entre os quais se conta o best seller erótico LIB – na edição em que o fotógrafo de Almada é figura de capa – a meias com o prémio Nobel José Saramago).
A pesquisa nos arquivos da Press espanhola é confusa e quase se pode concluir que Caiado é um nome desconhecido à medida que se caminha para Sul. O fotógrafo que ama o Sol e só sabe estar sem roupa no corpo é, curiosamente, bastante citado a Norte, sendo mesmo quase uma lenda na região de Castilla y Léon. Bom, região é uma forma de expressão, já que em área, não fica muito atrás de Portugal.
Alda e Caiado cruzam-se algures nos derradeiros anos da década de 90. Na altura, ela tinha como companheiro o aventureiro valenciano Ricardo Pla. Curiosamente, o fotógrafo de Almada era tido no meio artístico como o companheiro de Alicia Soto, bailarina, directora artística e fundadora da única companhia profissional de dança contemporânea de toda a Castilla Léon – a Hojarasca Danza. Caiado nunca assumiria oficialmente esta relação, mas as evidências são gritantes. E, basta aceder ao site (ou ao que resta dele) da Hojarasca para se perceber que Alicia conheceu um mundo novo e até então proibido à jovem e recatada burgalesa.
Assim, quando se conhecem, Alda e Caiado são os extremos de parejas híbridas e marcadamente artísticas. Todos os seus movimentos são gritos de revolta. No entanto, enquanto os espanhóis Pla e Soto apostavam numa continuidade do que em Espanha se tinha convencionado para o meio artístico, Alda e Caiado sempre foram os factores de ruptura. Aliás, quando se juntavam, fosse num dos vários apartamentos alugados de Madrid, fosse no antigo caça-minas norueguês atracado em Barbate, a jovem de Sacavém e o cabeludo de Almada davam início à construção da rebeldia no seu estado mais puro. Isto, claro, portas para dentro.
Se quanto a Caiado raramente sabe por onde anda, já Alda é reconhecida desde Velência a Ibiza. Neste CD importa ondas rítmicas e ambiências chillout e clubing. Como ela mesma diz: Good Gilrs Go To Heaven; Bad Girls Go... Clubbing.
Sem nome específico atribuído, este trabalho de voz e mixagem é uma oferta que Alda faz ao fotógrafo. Caiado ainda tem os ouvidos angustiados pelo fim precoce da banda underground de Almada – da qual foi fundador e baixista – PenaKapital. Só a voz cálida e ondulante de Alda pode acalmá-lo.
A DJ compõe também as letras. Há muita cumplicidade no texto. É verdade que não se sente logo, mas basta ter em conta os primeiros capítulos da biografia – não autorizada – do fotógrafo, para se perceber que os dois estão muito envolvidos. Para já e, é só o que aqui interessa, artisticamente.
Em CHELSEA B304, escutamos um CD de edição única. Os masters já Alda os terá perdido. Provavelmente, a cópia única que ofereceu ao fotógrafo será já uma raridade. Sente-se, em cada uma das quatro línguas utilizadas pela DJ que há uma grande dose de sonho a pairar nos seus dias e sobretudo muito desencanto. Tanto quanto o demonstra a fotografia em Caiado.
mÓNiKaGorguLHo – (biógrafa por editar)
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