Saturday, September 1, 2007

OS ANTECEDENTES da Furtividade Fotográfica

Os Antecedentes

Quatro dias numas paredes nem é assim tão inédito na vida furtiva deste autor de Fotografia. Os relatos falam em três dias em Valladolid. O texto de CHELSEA B304 refere-se a esta etapa. O director da Galeria Impacto, conhecida na cidade espanhola por apresentar exposições de fotografia que são destaque em jornais de selecção de marcas de equipamento fotográfico. Nem sequer é benevolente com o português que para ali levou três editoriais. O primeiro, Insómnios Del Paparazzo Urbano, surpreendeu a comunidade fotográfica. Durou um mês. La Modelo Jovencita Con Su Regla (a jovem modelo menstruada) era mais inocente do que o seu título faz supor. No entanto, da surpresa da exposição de estreia, a comunidade valisoletana passa rapidamente ao estado censório e tão rapidamente como caíra nas suas graças, Caiado torna-se ali também um quase-maldito.

Para terceiro (e último registo conhecido) o fotógrafo escolhe um editorial que resultou de disparos apressados sobre Branca Bessone, que dormira com ele nessa noite, a primeira desde que fora colocado o novo chão flutuante de cerejeira na divisão única do Atelier. Chamou-lhe, num desrespeito pela língua castelhana, L’Important Cést la Rose, Croix Moi. Este título, que não está suficientemente explicado na biografia, mostra a raiva latente na terceira deslocação à sala de Valladolid, anos após a separação de Alicia Soto e da sua Hojarasca Danza.

Como se não bastasse, o fotógrafo apenas ali vai estar de uma sexta-feira à manhã de segunda-feira seguinte. Domingo, a Galeria fecha. Assim, a exposição que mostra a intimidade da ex-secretária de direcção da Zagope, sai de Espanha como se alguma inexplicável missão tivesse que ser assim cumprida.
Aos investidores, o staff do fotógrafo apresentará resultados palpáveis. Embora, não se tenha estado nas reuniões nem delas hajam actas conhecidas, sabe-se que tal os satisfez e a prova é que a sua carreira prosseguiu próspera. Acredita-se inclusive que foi a partir daqui que Caiado seria chamado a expor na Bajucultura, a louca programação de recepção ao caloiro organizada pelo Politécnico de Beja. Sem favor. O editorial Os Burros Lavam-se Por Baixo – fotografias de uma viagem a Cannes na companhia da bailarina espanhola – provou que este é um fotógrafo que se dá bem com a adversidade. A tal convite, que mais tarde terá o rosto de Catarina Correia, não terá sido alheio o coleccionador de arte que seguiu com a equipa para Valladolid, qual agente infiltrado. Ainda hoje há quem garanta que todas as despesas terão decorrido por sua conta. Pode ser má língua.

Mas o mérito desta terceira estada em paredes de Valladolid é sobretudo retirar o carácter inédito a estes quatro dias de Teste de Paredes que decorreu na Galeria de Arte A.M.G.
Furtivamente
, há outros registos, tal como os dois que vêm referidos no texto de apresentação deste teste de paredes. De facto, quase dá a ideia que o que Caiado menos quer é que lhe vejam os quadros. Mas há outros dois factos de que o texto escrito para acompanhar CHELSEA B404 não fala. Um, mais recente, ocorre por ocasião de Estar Morto É O Contrário De Estar. A Galeria, todo um r/c amplo e moderno construído por José Neves e ainda por estrear, permite ao fotógrafo traçar todo um happening para envolver a sua exposição. E ele fá-lo. Com apoio e serventia da cave dessa fracção, Caiado constrói ali toda uma vivência de kibutz, só denunciada pelo mini-bar que trouxe do Atelier e pela quantidade de assentos e almofadas presentes no piso subterrâneo. A cortina, tipo tenda de deserto, permitia que a exposição do andar superior estivesse a ser visitada sem que os espectadores se apercebessem da vida um lanço de escadas (longo) abaixo. Isso e o andaime, que dividia uma zona em particular do espaço, onde alguns amplificadores e guitarras descansavam. Talvez por essa razão Gaelle surge nas fotografias do www.caiado.biz . Ela tocava guitarra e compunha em castelhano adaptado.
Curiosamente, esta exposição apenas abria a porta durante quatro horas, encerrando totalmente ao fim-de-semana. Surpresa? Nem por isso.

Outro episódio que retira alguma surpresa a este Teste de Paredes, aconteceu no Maxime. Aliás, Royal Maxime, como o fotógrafo lhe chama. Agora convertido a sala de música ao vivo pela gerência de Manuel João Vieira. Mas que há escassos anos apresentou (ironicamente os Irmãos Catita tocaram ali na presença destas fotografias) um editorial intitulado As Últimas Horas Da Bailarina. Quem, bastantes meses depois passasse pelas traseiras da Capitão Leitão e se deparasse com a exposição Mau Dia Para Nadar Á Noite, poderia ficar confuso ao reconhecer ali – Bar Alma – as mesmas fotografias em tamanho grande que ocuparam as galerias do foyer do Royal Maxime. Confuso porque, um dos princípios de Caiado tem sido o de não repetir uma exposição. Mas a explicação está no facto de, As Últimas Horas não terem sido na realidade uma exposição. Deste evento não foi editado qualquer convite ou folheto. Ou algo correu mal, ou o fotógrafo terá atendido alguma exigência de caprichoso marchand de visita a Portugal? Um dia saberemos.

Ao chamar Teste de Paredes a este CHELSEA B304 que a Galeria A.M.G. mostrou, uma coisa é certa. Caiado reserva-se o direito de voltar à carga com este editorial. Será então casuístico o nome de Paris Hilton no documento do susto (vulgo, Preçário) ? E, já agora, por que a referência ao mundo do futebol no texto de apresentação de CHELSEA B304, quando precisamente toda a dinâmica do fotógrafo durante a estada em Inglaterra parece contrariar este lugar-comum dos básicos da bola? Aliás, não é logo ali referido que é a Relações Públicas do Chelsea F.C. quem tem de querer contactar com o autor e não o inverso?

Há pois antecedentes a este assim chamado Teste de Paredes. Há uma furtividade inconsequente em Caiado. Um pânico de criar laços. O que mais irrita é que, sendo o único texto escrito sobre a misteriosa vida deste autor, a biografia de Mónica Gorgulho levanta mais questões do que respostas dá. Ela mesma parece deixar o projecto algo agastada com a blindagem de personalidade com que teve de se confrontar. Nisso façamos justiça. Allez Mónica.

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